Além de postos de saúde, imunização será oferecida em farmácias privadas
Fonte: Folha de S.Paulo
A campanha de vacinação contra a gripe começa nesta segunda-feira (23). Na primeira fase da campanha, que durará até o próximo dia 16, serão contemplados idosos a partir de 60 anos e profissionais da saúde.
A vacina não protege contra o coronavírus, mas a pandemia alterou o cronograma estabelecido pelo Ministério da Saúde. A pasta antecipou o início da vacinação de abril para março e inverteu os grupos prioritários. Até o ano passado, a vacinação começava pelas crianças com idade entre 1 e 6 anos incompletos, grávidas e puérperas.
“Precisamos proteger os mais vulneráveis e os que estão na linha de frente no atendimento. É importante garantir que essas pessoas tenham acesso à informação para evitar filas nos postos de saúde”, disse o secretário em Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira.
Outro motivo para a antecipação, segundo o Ministério da Saúde, é que a vacina contra a gripe auxiliará na exclusão do diagnóstico por coronavírus, uma vez que os sintomas da Covid-19 e da Influenza são parecidos.
“Se a pessoa avisa que foi vacinada [contra a gripe], isso vai auxiliar no raciocínio profissional para [o médico] pensar em outros vírus”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
A campanha deste ano tenta contar com reforços de farmácias privadas para amenizar aglomerações e o impacto sobre os serviços nas unidades básicas de saúde diante da pandemia de coronavírus. A ideia, no entanto, esbarra em restrições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Apenas o estado de São Paulo e a cidade de Porto Alegre anunciaram a participação das farmácias. Essas unidades privadas aplicarão as vacinas, fornecidas pelo SUS, gratuitamente e sem ônus aos cofres públicos.
As farmácias vão começar aplicar a vacina na quarta (25) na capital gaúcha e a partir do dia 13 de abril entre as cidades paulistas.
Uma resolução da Anvisa, de 2017, determina que as farmácias devem dispor de uma sala de vacinação de 9 metros quadrados. Walter da Silva Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), estima que, das 87 mil unidades espalhadas pelo Brasil, nenhuma tem esse tamanho.
“A maioria das farmácias dispõe de apenas uma sala para atendimento privativo a pacientes e 4 mil unidades possuem sala de 6 metros quadrados para injetáveis [administração de medicamentos] nas regiões sul e sudeste”, disse Jorge João, que na semana passada esteve com a cúpula do Ministério da Saúde.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, os estados do Pará e Rio de Janeiro manifestaram interesse em firmar parcerias.
“As tratativas evoluíram nesta semana e vamos participar por causa da situação emergencial”, disse Barreto.
Na cidade de São Paulo, pelo menos 918 pontos de vacinação em todo o município foram preparados para atender a população. São 468 Unidades Básicas de Saúde e 450 escolas municipais.
De acordo com a prefeitura, cerca de 600 instituições parceiras e voluntárias devem levar a vacina para pessoas acamadas, incluindo idosos em ILPIS (Instituições de Longa Permanência para Idosos). O município também terá 264 vans para atendimento de pessoas acamadas por profissionais da saúde.
O governo adquiriu 70 milhões de doses da vacina, um custo total de R$ 1 bilhão, e estima atender 67,6 milhões até o final da campanha, no dia 22 de maio.
No cronograma também há o dia “D”, no qual o Ministério da Saúde promete uma mobilização nacional, com os 41 mil postos de saúde espalhados para atender os grupos prioritários. O governo teme que a população idosa, com a disseminação da Covid-19, desista de procurar o serviço.
A secretaria estadual de São Paulo pretende vacinar 15 milhões de pessoas. O estado reúne 2,2 mil unidades privadas e 947 tem salas de injetáveis – 714 somente na capital.
Barreto disse que mais de 250 farmácias deverão contribuir com a campanha e aplicar no máximo 1 milhão de doses.
Nem a Abrafarma nem o governo estadual ainda sabem quais unidades vão participar. “A secretaria está traçando essa estratégia, porque tem regiões mais carentes e podem ter mais filas na rede pública”, disse Barreto.
O médico Munir Ayub, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, e a infectologia da Unifesp, Sandra de Oliveira Campos aconselham os idosos evitarem os primeiros dias se houver aglomeração.
“A campanha vai durar dias, meses e não é uma urgência. É importante procurar locais com menos gente. Se tiver que pegar senha, dê uma voltinha para não ficar em locais com aglomerações”, disse Ayub.
Campos alerta que, apesar da oferta de vacinas, há registro de mortes pela gripe H1N1. “Vacinado, o idoso não ficará doente ao ponto de ir para o hospital e ficar mais exposto”, disse a infectologista.
Neste ano, o Ministério da Saúde registrou 13 óbitos por H1N1, 14 por Influenza B e dois por H3N2. São 320 casos e, desses, 40 em São Paulo. Em 2019 o país registrou 5.800 casos e 1.122 mortes pelos três tipos de gripe.